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- Economia verde: reinvenção do capitalismo ou nova utopia?
Posted by : Executive Consultoria Jr
sexta-feira, 22 de março de 2013
A sustentabilidade nem bem
conseguiu ser digerida pela academia e empresariado e já aparece um novo
termo para apaziguar os ânimos e a ansiedade em tempos de medo do novo
apocalipse, um fim do mundo provocado pelo próprio ser humano sem
interferência divina. Muitas críticas já surgem com relação à economia
sustentável, sendo considerada como uma nova ideologia da
contemporaneidade. Os que estão à direita, que seriam os empresários
arcaicos ou ideólogos radicais do liberalismo de John Locke, que
abominam as tentativas sob quaisquer justificativas de intervenção do
Estado nas regras econômicas da sociedade, continuam a defender o livre
mercado e o uso indiscriminado dos recursos naturais, deixados por Deus
ao homem que trabalha.
Os que estão à esquerda, que
defendem o fim do capitalismo como sistema social e econômico injusto,
argumentam que a igualdade social, prometida há mais de um século, não
pode ser barrada pelo ecologicamente correto, agora que chegou a vez dos
pobres. Os ricos estão desfrutando o conforto há séculos. Agora é a vez
dos pobres. Será mesmo?
Os empresários reclamam que qualquer ação
regulatória é um balde de água fria na iniciativa privada que é
obrigada a fazer investimentos pesados para o controle das emissões de
efluentes químicos líquidos ou gasosos, além de metais pesados, sucatas,
resíduos etc. Os ambientalistas defendem que os capitalistas estão
dando um tiro no pé ao resistirem ao controle das emissões, matando a
galinha dos ovos de ouro.
Um guru do neoliberalismo e das gestões
estratégicas, Michael Porter, defendeu tempos atrás, em um artigo, que o
Estado deve mesmo criar uma regulação rigorosa, pois é a única forma de
fazer os empresários saírem da zona de conforto e investirem em
inovações, analisando suas cadeias de valores e identificando nos
processos as causas da poluição. Ou seja, poluição é sinônimo de
ineficiência operacional. Ele vai mais longe ao provar com exemplos que a
inovação acaba gerando economias relevantes nos processos, reduzindo
custos e preços, além dos impactos positivos do ponto de vista
ecológico.
Alguns discursos argumentam que a sustentabilidade e
agora a economia verde são ideologias. Afinal por que são ideologias? É
preciso, mais do que nunca, entender porque estão sendo nominadas como
tal. A questão ambientalista, como nós já vimos, não encontra assento
nem à direita, nem à esquerda do espectro político ideológico da
contemporaneidade. Fala-se em terceira via, inclusive no Brasil, onde
uma ex-ministra do Meio Ambiente, ambientalista de carteirinha, saiu
como candidata a presidente e obteve a expressiva votação de 20% do
eleitorado no primeiro turno. Ideologia ou utopia?
O filósofo
alemão Karl Manhein discutiu os conceitos tempos atrás, mostrando a
confusão entre um e outro do ponto de vista histórico. Ideologia, para
os marxistas, vem a ser um mecanismo de manipulação da realidade por
parte de quem detém o poder com o objetivo de ocultar as suas
contradições sociais, políticas e econômicas ou também utilizando o
cinismo de inverter as relações de causa e efeito, colocando os efeitos
no lugar das causas e vice-versa. O marxismo que é considerado uma
ideologia, na realidade, é uma utopia e as utopias para Michael Löwy é
uma crítica ao presente com base em valores do passado.
Em resumo
pode-se afirmar que a causa ambientalista, da sustentabilidade ou
economia verde não encontra assento nem à direita nem à esquerda porque é
um tema embaraçoso e desconfortante para ambos os lados do plenário
político ideológico. Para a direita é uma ameaça afetando as estratégias
de custo conquistadas a duras penas e justificam, até com alguma razão,
que os consumidores não pagam a conta, pois querem sempre preços mais
baixos. Para a esquerda, reduzir áreas de plantio, eliminar indústrias
poluidoras, pescas predatórias, construções de hidroelétricas em áreas
de florestas nativas etc é reduzir as possibilidades de crescimento
econômico, impedindo que a população excluída possa ter acesso à
mobilidade social.
Por outro lado, universalizar os padrões de
consumo dos ricos (América do Norte, Europa e Japão, além de alguns
nichos da América), seria impossível. Se os asiáticos, com seus 3,5
bilhões de habitantes quisessem consumir a mesma quantidade de aves que
os norte-americanos consomem, não haveria energia e insumos suficientes.
Isso para não falar no automóvel, objeto de desejo de milhões e,
felizmente, ainda acessível a tão poucos. Tudo indica que o cobertor é
curto demais para tantas pernas. Aliás, essa é uma questão que Karl
Marx, o histórico pai dos pobres, nunca estudou para valer, pois seu
objetivo fundamental sempre foi colocar a classe operária no paraíso.
Onde estará o paraíso? A questão ambiental talvez ficasse para o fim da
História, ou seja, quando todos os resquícios da sociedade capitalista e
burguesa tivessem sido erradicados do planeta.
Seria então a
economia verde um termo mais independente e genérico, que pode colar
como uma nova utopia? Sustentabilidade é um conceito muito relacionado à
ideia de um capitalismo sustentável o que não é tão simples assim, pois
o estímulo ao crescimento e ao consumo são matrizes fundamentais para
esse sistema. E convenhamos, crescimento e consumo sem limites são
incompatíveis com a sustentabilidade, pois já há consenso de que a nossa
pegada ecológica já está consumindo um planeta e meio.
Como o
nosso grande problema estratégico é que não temos nenhum planeta a vista
e tampouco um criativo genovês capaz de colocar um ovo em pé, é preciso
colocar as barbas de Marx e de outros de molho. Essa nova utopia, que
ainda carece de uma fundamentação teórica mais profunda, pode ganhar
adeptos no futuro, envolvendo a presença de um Estado mundial forte e
regulador com uma governança que abarcaria o efeito estufa, a poluição
dos rios, mares, solo, subsolo, recursos florestais, crescimento urbano
etc. e ainda por cima determinaria os padrões de consumo. A vida humana
precisaria ser mais simples, com menos trabalho, quase sem descarte, sem
embalagens, com padrões de alimentação vegetarianos, já que a carne é
também uma grande vilã.
Alguém poderá dizer que a vida assim não
teria graça. Pode ser, mas não sabemos se existem alternativas
diferentes para o capitalismo predador que busca lucros infinitos sem se
preocupar em repor os recursos utilizados. A vida na terra com
temperaturas escaldantes, com pouquíssima água e alimentos escassos e
racionados, pode ser bem pior do que essa nova utopia.
Renato Ladeia é professor do Departamento de Administração do Centro Universitário da FEI
Fonte: administradores.com