Posted by : Unknown sexta-feira, 8 de março de 2013


Prestes a se aposentar do posto de presidente de uma das mais importantes áreas do banco Goldman Sachs, o economista que criou o termo Bric falou com exclusividade ao site de VEJA sobre o baixo crescimento do Brasil e apontou os países que devem liderar o crescimento mundial nos próximos anos

Jim O'Neill, economista do Goldman Sachs
Jim O'Neill, economista do Goldman Sachs: aposentadoria, mas sem deixar os Brics (Chris Ratcliffe/Bloomberg/Getty Images)
Aos 55 anos, o britânico Jim O’Neill acaba de anunciar sua aposentadoria. Economista do banco Goldman Sachs há 18 anos, ele foi o primeiro a formular a tese de que alguns países emergentes viveriam histórias de crescimento capazes de mudar o cenário macroeconômico ao longo da década de 2000. O estudo, intitulado Building Better Global Economic Brics (algo como Construindo uma Economia Global Melhor com os Brics) e publicado em 2001, colocava Brasil, Rússia, Índia e China como origem de boa parte da riqueza e do crescimento mundial nos anos que viriam. O estudo previa ainda a importância da economia chinesa como motor de avanço – e do Brasil, como grande mercado consumidor.
A saída de O’Neill não significa o abandono do estudo das economias emergentes. Como ele mesmo enfatizou diversas vezes ao longo do ultimo mês, a aposentadoria se refere apenas ao seu trabalho no banco. “Estou me aposentado do Goldman, não da vida”, disse, em entrevista concedida com exclusividade por telefone ao site de VEJA. O economista contou que se dedicará a um livro, a algumas palestras, a dormir oito horas por noite e a um possível programa de TV sobre países emergentes que lhe exigirá algumas viagens ao longo do segundo semestre.
O jornal Financial Times afirmou, em reportagem publicada logo após o anúncio da aposentadoria, que O’Neill estaria descontente com a evolução de seus projetos no Goldman – e por isso havia optado por sair. Verdadeiro ou falso, o rumor está longe de atrapalhar a história de êxito de um dos mais proeminentes economistas dos últimos anos – um dos poucos a enxergar o real potencial de determinados países antes preteridos não só por investidores, mas também por pensadores da economia mundial. “A história mostrou que a tese sobre os Brics estava certa. E o resultado disso foi muito maior e mais rápido do que eu poderia sequer vislumbrar”, afirmou o economista, que, entre outras funções, já foi até mesmo diretor do time de futebol inglês Manchester United. Confira trechos da entrevista.
O senhor imaginou que os Brics chegariam nesse patamar de crescimento e desenvolvimento, a despeito dos grandes problemas que ainda guardam?
Não, nunca. Eles ficaram muito maiores e mais rapidamente do que eu previa. E é importante ter isso em mente toda vez que alguém se mostrar frustrado com o baixo crescimento do Brasil nos últimos dois anos. Isso não é nada perto do que o país já conquistou.
É possível que os Brics alcancem o posto de países desenvolvidos sob o mesmo modelo que Europa e Estados Unidos?
É possível que eles se desenvolvam e cheguem a um nível de riqueza como o dos países desenvolvidos. Mas eu diria que isso acontecerá sob um modelo diferente porque os tempos são outros, os modelos de governo mudaram e a origem do dinheiro também. A Coreia do Sul é um exemplo muito importante a se observar nesse sentido, pois tem alcançado um nível de desenvolvimento impressionante que, provavelmente, será seguido por outras nações, sobretudo asiáticas. Algo muito diferente dos modelos europeu ou americano. O Brasil, apesar da desigualdade social, conseguiu avanços nessa área, algo que é realmente excepcional. Ou seja, há um acúmulo de riqueza em curso que tem abrangido uma ampla parte da população brasileira. Mas chegar ao nível de desenvolvimento da Europa, considerando os avanços sociais, ainda é um enorme desafio para os Brics.

Os Brics têm sido vistos com algum ceticismo nos últimos tempos, devido à desaceleração de seu crescimento econômico. Muitos até mesmo ousam dizer que era dos Brics acabou. O senhor concorda?
Eu tenho achado tudo isso muito divertido. Na última década, os Brics cresceram mais do que eu previa – e mesmo se tivessem crescido menos, por que isso significaria o fim da história? Brasil e Índia frustraram muita gente nos últimos dois anos, mas a China, absolutamente, não. Continua crescendo, inclusive mais rápido do que as minhas projeções. As pessoas frustradas porque a China não está crescendo a uma taxa de 10% ao ano não sabem nada do país e são muito ingênuas. Eu esperava que a China crescesse, em média, 7,5% ao ano nessa década. Mas o crescimento está em 9,2%. A Rússia está crescendo exatamente no ritmo que eu previa. Ou seja, dois dos Brics estão surpreendendo ou correspondendo às expectativas e dois estão crescendo menos, mas continuam seu avanço econômico. Achar que a história dos Brics acabou é ridículo. O crescimento desses países entre 2011 e 2012 é o equivalente a toda a economia da Itália. A história mostrou que a tese sobre esses países estava certa. E o resultado disso foi muito maior e mais rápido do que eu poderia sequer vislumbrar. Por isso acho essas afirmações pessimistas engraçadas – e também provenientes de pessoas mal informadas.

No ultimo ano, o México tem sido visto por analistas como a nova estrela da América Latina – uma economia mais atrativa, inclusive, que o Brasil. Isso é euforia ou realidade?
Bom, sempre quando penso se houve injustiça em não ter inserido outros países no grupo dos Brics, o México é o caso mais gritante. Eu realmente gosto da história mexicana. Mas não é tão boa quanto a brasileira. Sou fã do México, sobretudo depois dessa nova fase da China, mais voltada para o mercado interno e deixando o país latino-americano como maior beneficiário disso.

Por quê?
Os salários na indústria chinesa estão subindo. Por isso, muitos fabricantes americanos já não encontram vantagem financeira em manter plantas na China pagando salários mais altos e arcando, ainda, com toda a operação logística. Desde o ano passado, há um movimento de imigração industrial acontecendo no território mexicano, sobretudo de empresas americanas. Além disso, o governo mexicano é um grande incentivador de empresas estrangeiras – diferente do Brasil e outros países, governados com viés mais protecionista. O México se destaca, sim, assim como Chile, Peru, Turquia e Indonésia. Mas não dá para ser comparado com o Brasil ou os demais Brics.

Qual é o próximo grupo de países a liderar o crescimento daqui para frente e que possa se tornar os Brics do futuro?
Há os países do Mist – termo que eu não criei, mas que muitas pessoas atribuem a mim. Eu, na verdade, escrevi um artigo sobre esse tema, citando México, Indonésia, Coreia e Turquia como novos destinos interessantes para investimentos nos próximos anos, e um jornalista coreano criou o acrônimo Mist ao citar meu estudo. Mas, apesar de serem economias muito promissoras, ainda não posso afirmar que chegarão perto do tamanho dos Brics. Eu acredito que não.

Quais são seus planos para a aposentadoria?
Eu estou me aposentando do Goldman, não da vida. Vou sair no final de abril e meu plano é tirar férias, coisa que não faço direito há 30 anos. De maio a agosto, vou tirar o atraso do sono e redescobrir o que é dormir por oito horas todas as noites. Em setembro, volto a trabalhar.
Que tipo de trabalho?
Eu prometi para mim mesmo que não decidiria o que fazer até deixar o Goldman – mesmo porque tenho ideias que ainda não gostaria de compartilhar com ninguém. Mas, tenho de confessar que, desde que anunciaram minha saída, tanta gente veio me oferecer coisas interessantes que estou me sentindo até mesmo um pouco sufocado. Quero descansar antes de decidir. Devo escrever um pequeno livro sobre economia durante o verão e fui chamado por uma grande rede de televisão para fazer um programa sobre países em desenvolvimento. E isso exigirá algumas viagens – algo que eu provavelmente farei no outono. Fora isso, continuarei vivendo em Londres para estar sempre perto do Manchester United e poder ir aos jogos quando quiser. Ah, e espero tirar quatro semanas para ir de férias ao Brasil no próximo verão.

Fonte: revista veja

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